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Opinião

I&D+I como resposta crucial aos desafios da indústria de moldes

27 Dezembro 2022

A indústria de moldes tem na sua génese a Inovação, mas também a Investigação e o Desenvolvimento, embora de forma menos académica do que aquela que hoje nos é apresentada.


Ao longo de muitos anos, esta indústria utilizou estes fatores para se diferenciar e acima de tudo para desenvolver a sua posição, a nível global. No entanto, estes processos surgiam de forma pouco formalizada e acima de tudo pouco sistematizada, tendo normalmente origem numa solicitação de um cliente. Era parte de um processo natural de procura de soluções para os nossos produtos e/ou processos, de forma mais ou menos intuitiva, em que a conjugação da habilidade e da experiência eram determinantes para o sucesso.


A internacionalização do sector cedo permitiu a criação e implementação de estruturas de apoio à indústria que noutros sectores portugueses demoraram muito mais tempo para se instalarem. A CEFAMOL foi, na altura da sua criação, uma instituição verdadeiramente inovadora e importante para a afirmação e crescimento do sector, enquanto o CENTIMFE deverá ter sido um dos primeiros centros tecnológicos sectoriais do nosso país. Esta abertura ao exterior permitiu captar algumas das melhores práticas existentes na Europa. Fomos pioneiros na participação em projetos europeus financiados.


Atualmente, o sector é dos mais dinâmicos na captação de financiamento para as suas atividades de I&D+I. Dentro das indústrias tradicionais portuguesas será o que terá a maior percentagem de investimento em I&D em função do PIB, embora abaixo da média europeia de 2,5%. Em 2020 a despesa em I&D no sector empresarial português representou 1.843,6M€ representando 57% do total nacional com um peso de apenas 0,92% do PIB. Dentro deste valor 43% foi dedicado à promoção da produtividade e das tecnologias industriais.


No entanto, o I&D+I nunca foram tão importantes como nesta conjuntura tão difícil. A pós-pandemia (se o é), este cenário de guerra, até há pouco inimaginável e as importantes e previsíveis modificações na mobilidade para alcançar a neutralidade carbónica estão a impor mudanças que têm de ser preparadas e antecipadas.


Os desafios que hoje são colocados à indústria de moldes exigem uma alteração nos processos de I&D+I, colocando-os não só como fatores centrais do seu desenvolvimento, mas tornando-os como nucleares para a sua sobrevivência. Assim, urge torná-los como função principal nas nossas organizações criando estruturas bem definidas de implementação e acompanhamento.


Nunca o fazer mais rápido, melhor e com menos custo foi tão importante como nos nossos dias.


Para isso é fundamental capacitarmos não só a equipa de implementação e acompanhamento, mas antes todas as nossas equipas de trabalho, fazendo com que os processos I&D+I sejam parte da cultura das organizações, estando no centro da atividade quotidiana e seja medido como qualquer outro processo, em especial a sua rentabilidade.


Mas estes processos de I&D+I não se restringem unicamente ao produto ou ao processo produtivo. Hoje a investigação o desenvolvimento e a inovação passam também pelos modelos de negócio, pelos processos de comercialização, pelo desenvolvimento das cadeias de fornecimento.


É absolutamente inequívoco que o nosso negócio está em transformação. E essa transformação é tão agressivamente rápida que só com processos de I&D+I claramente definidos, e muito bem desenvolvidos conseguiremos manter o nível de competitividade, para nos mantermos economicamente competitivos e saudáveis.


E muito mais que a tecnologia, as pessoas são determinantes neste sucesso. Destas, as equipas de gestão serão chamadas a uma liderança totalmente focada no I&D+I, onde as definições estratégicas ao nível do negócio e ao nível da operação serão o leme da organização. Não menos importante, a requalificação dos colaboradores atuais é outro desafio, pois torna-se relativamente difícil fazer essa atualização quanto mais alta for a idade. Mas também no recrutamento teremos dificuldades, pois a preparação dos nossos jovens quer ao nível das escolas profissionais quer ao nível do ensino superior, é muito carente de abordagens necessariamente consistentes ao nível da investigação, desenvolvimento e inovação.


Com a transformação da orgânica de gestão na nossa indústria de uma realidade mais empreendedora para uma realidade mais profissional, seja por uma sucessão academicamente mais preparada, seja pela reestruturação do processo de liderança com gestores profissionais, seja pelas aquisições por empresas mais estruturadas, é possível que estejamos já num período de transformação, permitindo que esta dinâmica de I&D+I se processe de forma mais eficiente.


Já no que diz respeito a requalificação dos nossos colaboradores, em especial no que aos processos de I&D+I diz respeito, este é um desafio verdadeiramente difícil. Não só porque requer renovação de conhecimentos e competências, mas acima de tudo porque a grande maioria dos nossos colaboradores não está recetivo há um processo educativo/formativo desta magnitude devido fundamentalmente à formação base normalmente baixa e à falta de formação formal ao longo da sua carreira profissional. O paradigma da formação no posto de trabalho tem de ser alterado.


A alteração de processos produtivos em que o conhecimento individual será menos determinante que o conhecimento coletivo, em que a utilização de tecnologias avançadas de produção, assim como, processos de automatização e robotização serão o desígnio da indústria, trazem grandes transformações nos requisitos de competências e conhecimento. Por isso estes processos de educação/formação se tornam tão determinantes.


Por último, os novos recrutamentos serão também alvo de grandes processos de formação, nesta temática de I&D+I, já que esta abordagem é muito limitada dentro das escolas.


Acredito piamente que só as empresas que apostarem fortemente numa estratégia clara de I&D+I, colocando-a no centro da sua atividade, terão sucesso.



Texto: Nuno Silva
Publicação: Revista TECH-i9 2022