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Entrevista

Artur Mateus (CDRSP): «Um centro de investigação tem de ter impacto e estar junto das empresas»

26 Outubro 2022

Reforçar a cooperação com a indústria e as ligações com as entidades do sistema científico e tecnológico nacional e internacional, reforçar a captação de financiamento competitivo na Europa e dinamizar ações que estimulem a criação de valor económico a partir da investigação e da inovação. Estas são algumas das prioridades do novo diretor do Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentado de Produto do Politécnico de Leiria (CDRSP). Artur Mateus foi empossado no cargo em julho e irá liderar o Centro nos próximos quatro anos. Ocupando, anteriormente, o cargo de subdiretor do CDRSP, Artur Mateus tem ainda como objetivos reforçar a organização interna, as interfaces e os caminhos da informação, e a aposta nos recursos humanos, através da valorização dos atuais e captação de novos, bem como estender e duplicar a capacidade laboratorial instalada e procurar reforçar os veículos da disseminação e informação.



Qual tem sido o papel do CDRSP nestes 14 anos?

Tivemos a sorte e a oportunidade de ter criado o CDRSP em 2007. Recordo-me que, quando testávamos algo – e falo de mim, do Paulo Bártolo e Nuno Alves - íamos fazer trabalho de investigação para ‘casa dos outros’ e pensávamos criar um centro de investigação. Éramos bastante jovens. Mas isso acabou por acontecer em 2007. No ano seguinte, em 2008, começámos a desenvolver muitos projetos com empresas, no âmbito do QREN.

No meu caso, posso dizer que tive muita sorte por, nas empresas por onde passei, estar próximo dos projetos com candidaturas competitivas. Acabei por ganhar experiência em várias tipologias de projetos, conheci pessoas na Europa e nos Estados Unidos, vi o terreno e contactei com outras realidades. E isso foi importante para desenvolver o apoio que conseguimos dar às empresas.

Nessa altura, mudámos as instalações para junto do Hospital de Leiria, contratámos cerca de 15 bolseiros e, a partir daí, o Centro ganhou dimensão, acabando por se mudar para o Centro Empresarial, na Marinha Grande, e, mais tarde, para um edifício próprio. Com o passar dos anos, e a entrada no programa Portugal 2020, conseguimos multiplicar por quatro ou cinco os projetos que tínhamos do anterior quadro de apoio. Temos procurado desenvolver trabalho que faça a diferença e incremente qualidade nas empresas. A meu ver, um centro de investigação tem de ter impacto e estar junto das empresas. Nesse aspeto, temos um potencial enorme, até pelo meio que nos envolve: toda esta dinâmica industrial que junta vários sectores, desde os moldes ao plástico, ao vidro, à cerâmica ou à pedra. Mas acredito que podemos crescer, de forma a ter maior massa crítica, mais pessoas e ter maior impacto.



Essa é uma das prioridades para os próximos quatro anos?

Nos próximos quatro anos, gostava de conseguir alcançar uma estabilidade no número de profissionais ao serviço do Centro e firmar uma carreira de investigação no Politécnico de Leiria. Temos de dar oportunidade a investigadores de carreira para ter lugar na instituição, tal como fazemos com os docentes. Para isso acontecer, temos de ter garantia financeira. Temos conseguido ter projetos para manter os bolseiros. Agora, com o historial que temos, só depende de nós conseguir o dinheiro para o futuro. Se as pessoas que aqui estão tiverem um contrato, se tiverem trabalho e vontade, elas próprias e todos nós vamos arranjar os recursos financeiros.



É uma aposta na profissionalização do Centro?

Não posso dizer que o Centro não é profissional. A questão é que não temos, ainda, condições para sobreviver sem depender dos projetos. Isto obriga-nos a procurar trabalho junto das empresas. Mas é um pouco angustiante pensar que o trabalho de alguém pode acabar se a fonte de financiamento terminar. Neste momento, temos cerca de 50 bolseiros, oito com contratos. Agora com o PRR temos uma responsabilidade enorme, temos uma série de projetos de milhões de euros. Temos de ter pessoas que nos garantam alguma estabilidade.



As pessoas são o mais importante?

Sem dúvida. E esta questão é uma das nossas prioridades. Uma outra prende-se com o espaço. Precisamos de mais espaço para desenvolver outros projetos e dar um apoio diferente às empresas.



Alargar este Centro…?

Na envolvente do Centro temos espaço para crescer. O ideal seria criar um chão de fábrica, de forma a conseguir trazer equipamentos e testar. Na prática, desenvolver um trabalho articulado com as empresas, que nos permitisse ter uma oferta para poder testar máquinas e ferramentas. Alguns trabalhos com empresas necessitam desse tipo de resposta e, para isso, precisamos de espaço. Andamos à procura da solução, mas ainda não encontrámos. No entanto, temos alguns projetos aprovados que implicam a utilização de materiais e equipamentos de grande dimensão e não temos espaço.



E essa dificuldade de espaço impede-vos de desenvolver novas competências?

Cria algumas limitações. Aumentar o espaço permite criar novas competências. Há uma premência muito grande na questão da transição verde, por exemplo. As empresas necessitam de certificação de materiais reciclados. Se não forem certificados, são considerados resíduos e não valem nada. Para conseguirem reciclar e colocar esses materiais como matéria-prima, estes têm de ser certificados. Ora, as pequenas e médias empresas não têm laboratórios para fazer isso. Se houvesse uma infraestrutura que permitisse fazer isso, era bom para o tecido empresarial. E este é apenas um dos exemplos. E temos de insistir na parte digital. Fomos criados com o foco no fabrico direto digital e no fabrico aditivo. Mas temos agora de incrementar a questão da sustentabilidade.



Ter impacto e estar junto das empresas é uma das prioridades para o Centro. De que forma pretende fazer isso?

A ligação que temos com as empresas é grande, mas, a meu ver, não é suficiente e, por isso, temos de fazer mais. Temos a responsabilidade de, primeiro, olhar para a nossa rua e depois para o mundo. Ou seja, temos de nos bater por aquilo que temos aqui. Mas temos a responsabilidade de olhar à volta a perceber as necessidades que existem: nas empresas dos moldes, do vidro, na cerâmica, na pedra ou até na madeira. Temos de identificar aquilo que podemos fazer para ajudar, criar investigação com impacto. Depois, temos obrigação de criar e disseminar conhecimento para todos, sobretudo para os jovens. Mas, por outro lado, também temos obrigação de ir fora da nossa rua e procurar outras soluções, novos produtos e processos, que possam ser instalados e, dessa forma, criar novos nichos potenciais de conhecimento e valorização das empresas.