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Entrevista

Markus Heseding (ISTMA Europe): «O fabrico de moldes tem uma influência grande na sustentabilidade da produção no cliente»

04 Outubro 2023

O presidente da ISTMA Europe, Markus Heseding, defende que a aposta na sustentabilidade é inevitável para os produtores de moldes, traduzindo-se, até, numa necessidade dos clientes. No seu entender, o foco das empresas deve situar-se nos desenvolvimentos técnicos e tecnológicos, até porque “tecnologia e competência nas soluções é o que diferencia a nossa indústria”. Salienta ainda a necessidade de o sector olhar atentamente para as Pessoas, mas também para o sucesso do negócio, pois “é um pré-requisito necessário que os esforços de sustentabilidade no fabrico de moldes conduzam a modelos de negócio bem-sucedidos”.



Como é que o tema da ‘Sustentabilidade’ irá impactar a indústria de moldes e no seu posicionamento nas cadeias de valor globais?

O fabrico de moldes tem uma influência particularmente grande na sustentabilidade da produção no cliente. Isso acontece porque o uso de matérias-primas e energia, bem como a segurança da produção – especialmente a produção ‘zero defeitos’ – e a qualidade do produto, dependem diretamente da ferramenta. Por isso, é de esperar que o foco das indústrias-clientes seja muito mais direcionado do que era antes para as capacidades das ferramentas e moldes. Afinal, a escolha dessas soluções altamente inovadoras está nas mãos de especialistas em produção, que são quem pode avaliar as capacidades das tecnologias. Através do desenvolvimento em parceria, no qual o fabrico de moldes já esteja envolvido no processo de desenvolvimento de peças, podem ser levantadas potencialidades inimagináveis em termos da sustentabilidade. Para apoiar isso, por exemplo, os fabricantes de moldes e compradores da VDMA projetaram, recentemente, um processo otimizado de pedido e confirmação (de encomenda), que será apresentado, pela primeira vez, na edição deste ano da Moulding Expo, em Estugarda, e disponibilizado, para comentários, a todos os interessados (via ISTMA).



Há, na sua opinião uma ligação direta entre o tema Sustentabilidade e Nearshoring (proximidade das cadeias de fornecimento)?

Os transportes, as viagens (de longa distância) e as normas sociais desempenham um papel na avaliação holística das cadeias de abastecimento. Portanto, é provável que o nearshoring venha a assumir um papel de maior relevo. No entanto, satisfazer as necessidades dos clientes internacionais e fornecer soluções inovadoras continuará a ser a prioridade máxima dos fabricantes.



A ISTMA Europe está a dinamizar um programa que pretende alertar e sensibilizar as empresas para a sustentabilidade, mas também partilhar boas práticas desenvolvidas no sector. Pode dar a conhecer um pouco mais deste programa, explicando os objetivos e ações que serão realizadas neste âmbito?

A sustentabilidade, como sabemos, tem muitos aspetos que, em conjunto, garantem que a nossa sociedade – e, portanto, também a indústria – seja mais consciente e moderada no recurso à energia e às matérias-primas que temos à nossa disposição. É por isso que a nossa prioridade, com a campanha da ISTMA ‘A tecnologia impulsiona a sustentabilidade’, é disponibilizar informação sobre o maior número possível de opções tecnológicas e organizacionais nas mãos das partes interessadas das indústrias de moldes e ferramentas e dos seus clientes. Começámos no dia 4 de maio, com uma sessão online, destacando o papel dos aços especiais para moldes, e também as vantagens das ferramentas modulares. Nas próximas sessões, iremos analisar muitos outros aspetos, por exemplo, como as ferramentas de corte, dispositivos de fixação ou máquinas, podem contribuir para a sustentabilidade no fabrico de moldes. A ISTMA irá realizar esta série de eventos no decorrer dos próximos dois anos.



Numa indústria que está localizada em várias partes do globo, com ritmos diferentes de preocupações com a questão ambiental, como será possível criar uma linha orientadora que permita que todos sigam o mesmo rumo a esse nível? Poderá ser criado algo do género de um ‘manual de boas práticas’, mas a nível mundial, para esta questão?

Com o processo de encomenda e decisão de compra otimizados, queremos realmente estabelecer algo dessa natureza. No entanto, não seria uma boa abordagem esperar que a Europa determinasse os esforços de sustentabilidade para todo o mundo. Além disso, há muita criatividade e grandes ideias em todo o mundo, com as quais nós podemos aprender muito. É por isso que estamos a concentrar-nos no que pode ser alcançado, no que faz sentido e no que é viável, nomeadamente tecnologia e organização. Aliás, partimos do princípio de que as melhores práticas resultantes da tecnologia se espalharão muito rapidamente por todo o mundo, se forem economicamente bem-sucedidas. Contamos com isso, especialmente porque os nossos clientes estão localizados em vários pontos do mundo.



Para além da sustentabilidade ambiental, há preocupação com a sustentabilidade financeira das empresas do sector. Há formas de encontrar um modelo de negócio mais sustentável para esta indústria?

Partindo do pressuposto que apenas as empresas economicamente bem-sucedidas sobrevivem, é um pré-requisito necessário que os esforços de sustentabilidade no fabrico de moldes conduzam a modelos de negócio bem-sucedidos. Não haverá um modelo de negócio único e bem-sucedido no futuro, mas muitos modelos de negócio diferentes, todos eles com a sua razão de ser. Por exemplo: se um fabricante de ferramentas pode oferecer ao seu cliente padrões de sustentabilidade mais elevados, isso traduz-se numa clara vantagem competitiva. Afinal, os próprios clientes estão interessados em tornar as suas cadeias de valor mais sustentáveis porque os seus próprios clientes o exigem, os seus financiadores impõem-no e os políticos, bem como a sociedade, exigem-no. Isto significa que se trata de uma ação em cadeia. Consequentemente, essa criação de ferramentas continuará também a ser financeiramente sustentável.



Muitas vezes, a adoção de medidas ‘amigas do ambiente’ são encaradas como um custo elevado. O que ganham as empresas com a aposta na sustentabilidade?

A sustentabilidade será uma condição de acesso ao mercado no futuro. Os clientes vão exigi-lo, tal como a sociedade e as políticas. A produção neutra em termos climáticos na Europa já está firmemente ancorada no tempo, nas metas a alcançar. É claro que muitas medidas custam dinheiro, mas muitas delas ajudam a poupar dinheiro. Muitas vezes, trata-se apenas de nos concentrarmos nestas questões. Os custos são sempre compensados pelos benefícios. Já que as condições básicas do mercado estão atualmente a mudar para a sustentabilidade, vemos estes como fatores de sucesso. Aliás, o fabrico de moldes tem por tradição esta aposta na mudança. Afinal, quem, senão o sector de moldes, garantiu, nas últimas décadas, que os materiais caros fossem utilizados com mais parcimónia, que as faturas de energia dos clientes pudessem ser mantidas sob controlo e que indústrias pudessem ser bem-sucedidas no mercado mundial nas condições económicas mais difíceis?



Neste tema da Sustentabilidade, qual é, na sua opinião, o papel das Pessoas?

As pessoas são o fator-chave. Juntos, temos de projetar um objetivo para a indústria de moldes e compartilhá-lo com o maior número possível de pessoas. As pessoas precisam de metas atraentes para também se sentirem emocionalmente envolvidas. Notamos que os jovens já valorizam muito o tema da sustentabilidade no seu pensamento e sentimento. As indústrias que têm a reputação de serem sujas e causarem problemas no mundo são agora incapazes de atrair jovens talentos. Isto torna ainda mais importante que sejamos capazes de mostrar repetidamente às pessoas, fora da nossa indústria, como, com a nossa forma de produzir, fazemos parte da solução.



Como a indústria de moldes na Alemanha está a olhar para este tema? Serão os desafios diferentes das empresas portuguesas?

O trabalho dos fabricantes portugueses é reconhecido por todo o mundo. Internacionalmente, é frequente encontrá-los em praticamente todas as feiras comerciais. Até agora, a Alemanha era um local de produção tão forte que o mercado de moldes não era apenas atraente para as empresas alemãs, mas também para muitos fornecedores estrangeiros. Mas isso está a mudar, de tal forma que os fabricantes alemães estão a ser, cada vez mais, empurrados para os mercados estrangeiros. Aí, todos os concorrentes têm desafios semelhantes. No entanto, as empresas sediadas na Alemanha, em particular, sentem-se desproporcionalmente expostas a obstáculos burocráticos e a condições de enquadramento difíceis, como o aumento dos preços da energia e a elevada carga fiscal, bem como a uma escassez cada vez mais notória de trabalhadores qualificados.



Que conselho dá às empresas de moldes para que se preparem da melhor forma para este desafio?

O foco deve estar nos grandes desenvolvimentos técnicos e tecnológicos. Tecnologia e competência nas soluções é o que diferencia a nossa indústria. Por mais banal que pareça, temos de repetir esta ‘história’ as vezes que forem necessárias. Não só para o cliente: também os políticos e o público desempenham aqui um papel de relevo. Cada exemplo positivo da nossa indústria, no que diz respeito a negócios mais sustentáveis, ajudará este nosso sector a atrair os talentos criativos para enfrentar as tarefas futuras e, assim, preparar o modelo de negócio das empresas para o futuro.