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Sustentabilidade

A economia circular no sector dos moldes e dos plásticos

21 Dezembro 2021

A economia circular é o novo paradigma económico que se veio sobrepor ao existente. A economia linear de extrair-produzir-usar-depositar não é mais viável num planeta de recursos finitos, que sente as consequências da poluição e das alterações climáticas. Já a economia circular pretende manter os recursos o máximo de tempo possível na economia através de ciclos, onde a reintrodução do produto em fim de vida é conseguida criando valor, com um impacto positivo no ambiente e na sociedade.


A transição para uma economia circular representa uma mudança fundamental no desenvolvimento do sector dos moldes, das ferramentas especiais e dos plásticos. Só na União Europeia, os países importam seis vezes mais matérias-primas e recursos do que exporta, e os recursos são a grande parte dos custos das empresas (CECIMO, 2019). Para manter a economia europeia competitiva é necessário usar os recursos de forma eficiente, é necessário colocar os resíduos novamente no ciclo produtivo. A substituição de matéria-prima virgem por matéria-prima secundária (ou reciclada) é um imperativo europeu e nacional.


Importa lembrar que o contexto atual que se vive devido à crise pandémica causada pela Covid-19 veio causar um impacto negativo no sector dos moldes. Portugal é o oitavo fabricante mundial de moldes para injeção de plásticos (terceiro na Europa) com cerca de 770 empresas e mais de 11 600 trabalhadores, vendendo 90% do que é produzido (Garcia, 2020; INE, 2019). A redução no número de automóveis vendidos, que só em Portugal foi de cerca de 34% em 2020 face a 2019 (Mateus, 2021) mostra como o principal sector para o qual os moldes são fabricados está a sentir o impacto desta crise. A economia circular terá de ser vista como uma oportunidade para impulsionar o sector.


Para melhor se entender o que é a economia circular importa compreender quais são as estratégias existentes para a promover. De acordo com Bocken et al. (2016), as estratégias de economia circular dividem-se em dois grupos: estratégias para desenvolver produtos circulares e estratégias para desenvolver modelos de negócio circulares, estando as estratégias detalhadas no Quadro 1.



Quão circulares são os moldes?

O sector dos moldes apresenta, por si só, características de circularidade, tanto de abrandamento do consumo de recursos, como de fecho de ciclo. Atualmente, os moldes são desenhados com características de circularidade do tipo “abrandamento do consumo”: os moldes são aptos para a reparação (componentes defeituosos do molde podem ser substituídos ou reparados para devolvê-lo à sua funcionalidade original) e para a reutilização (apenas operações de limpeza são necessárias para garantir a sua manutenção e utilização); e do tipo “fecho de ciclo” para a reciclagem (os moldes são feitos de aço, que é um material reciclável e reciclado). Os moldes são ainda concebidos com a menor quantidade de aço possível e com recurso a energia renovável.


No entanto, há desafios de circularidade para o molde. O seu tempo de vida útil sem se deteriorar (e.g., sem existir necessidade de reparação) necessita de ser melhorado. A capacidade de ser recondicionado (inclui-se aqui o termo repurposing) para produzir outras peças é um desafio considerável. Já quanto ao fim de vida, e apesar de ser feito num material reciclável e reciclado, é desconhecido os locais onde os moldes são encaminhados quando chegam ao fim de vida e será importante salvaguardar a permanência no território nacional de tal matéria-prima. Também não são conhecidos os teores em metal reciclado que os moldes possuem e qual foi a sua origem, de modo a demonstrar que a circularidade está a ser praticada no sector. A importância de utilizar metal reciclado nos moldes é, também, justificada pelo baixo impacto ambiental que o metal reciclado tem comparativamente com os metais virgens. De acordo com EuRIC (2021), a reciclagem de aço, alumínio ou cobre evita em 58%, 92% e 65% de emissões de gases com efeito de estufa, respetivamente. Além disso, ao nível dos modelos de negócio circulares, o sector ainda tem um longo percurso a percorrer. O modelo de negócio do sector é ainda bastante materializado, necessitando de estudar novos modelos como a servitization e a indústria 4.0.



Podem os moldes potenciar a circularidade dos plásticos?

Importa também salientar que o sector dos moldes terá um impacto significativo na circularidade do sector dos plásticos, em especial os produtos de plástico que são fabricados por injeção. Os moldes e as máquinas de injeção terão de ser concebidos para lidarem com os problemas de reciclabilidade do plástico, para que consigam injetar e produzir peças em plástico de elevada qualidade, de modo a evitar o downcycling (reciclagem noutros produtos, diferentes do produto inicial, de baixo valor de mercado comparativamente com o inicial).


A reciclagem do plástico e a sua utilização novamente na injeção tem diversos constrangimentos. A variabilidade das características do polímero reciclado (diferentes utilizações do mesmo polímero causam diferentes ações de desgaste, afetando-o de modo diferente, resultando num material mais heterogéneo), a alteração da viscosidade intrínseca, a contaminação com outros polímeros, a variabilidade da temperatura de fusão e uma maior libertação de gases durante a injeção do polímero reciclado são fatores que podem limitar a utilização de matéria-prima reciclada em processos de injeção. Dependendo da utilização do polímero reciclado, outros requisitos poderão ser solicitados, como é o caso da utilização do polímero para contacto com alimentos. Para uma efetiva circularidade do plástico, novos desenvolvimentos que unam os esforços entre o sistema de injeção (máquina e molde) e os plásticos são necessários e críticos.


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Texto: Ana Pires e Dulcínia Santos (CENTIMFE)
Publicação: Revista Molde 131