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Gestão de Pessoas

TTO: «As máquinas são importantes, mas não criam nem inventam»

22 Novembro 2022

O papel das pessoas “já é e vai ser cada vez mais determinante para a capacidade das empresas”. Quem o defende é Hugo Ferreira, da TTO. No seu entender, a Pessoa “terá sempre lugar de destaque nas empresas” porque “as máquinas são muito importantes, mas limitam-se a produzir: não inventam, não criam, não se adaptam”. Essas são capacidades que estão reservadas às pessoas e que, sustenta, “serão cada vez mais importantes no futuro”.


“As tarefas repetitivas serão asseguradas por máquinas, mas o papel humano será cada vez mais importante na evolução tecnológica”. A mão-de-obra no futuro vai assentar em competências como a criatividade, adaptabilidade, às quais se juntará a capacidade técnica e a experiência, defende. “A vontade de fazer e de aprender e também de trabalhar em equipa já são, e vão ser cada vez mais importantes nas empresas”, sustenta acrescentando que “o conhecimento técnico e tecnológico vai ser fundamental, mas estará equiparado a estas outras competências”.


Para Hugo Ferreira, uma outra mudança que prevê que aconteça no futuro das organizações prende-se com a logística. Atualmente, cada empresa integra um conjunto de pessoas que se dedicam a assegurar questões logísticas, como os transportes. No seu entender, no futuro, essas situações passarão por partilhar essas funções entre empresas, até como forma de assegurar maior sustentabilidade. Depois, lembra a importância que começa a ter cada vez mais o trabalho remoto. “Caminharemos para um sistema em que as pessoas não precisam de estar – e não vão estar – tanto no seu local de trabalho para desempenhar tarefas porque podem fazê-lo a partir de qualquer ponto”, explica.


Uma questão que, salienta Hugo Ferreira, é preocupante diz respeito à sucessão nas empresas. Esta, enfatiza, “é essencial para assegurar o futuro das organizações”. “Esta tem sido a indústria dos ‘self made men’ e temos gestores que são pessoas notáveis, de uma capacidade invulgar e ímpar”, afirma, considerando que, no entanto, já hoje “a gestão tem particularidades diferentes e caminhará, no futuro, para ser cada vez mais através de novos modelos de gestão”. Por isso, exorta, “é preciso que as empresas façam esse caminho e tenham essa evolução”. É que, no seu entendimento, “privilegiar a gestão é fundamental”.


// Hugo Ferreira (TTO)


Contudo, lembra que há ainda muitas empresas que estão suportadas num núcleo muito reduzido de pessoas que, entretanto, e por questões como a idade, acabarão por sair. “A sucessão não deve ter como prioridade a família. Pode, e deve, passar por modelos mais profissionais”, sublinha. Se por um lado, “é inevitável que muitas pessoas que estão em idade de reforma se mantenham nas empresas e isso até é bom porque o conhecimento fica; por outro, isso não pode ser tratado dessa forma porque as pessoas não podem durar para sempre e têm de tornar o processo de sucessão eficaz”. E isso, acentua, faz-se apostando no modelo certo. E este pode, ou não, integrar as pessoas da família do gestor.


Para Hugo Ferreira, todas estas questões têm um ponto em comum: “é fundamental apostar num modelo de ensino que tenha tudo isto presente: desde as competências necessárias hoje e no futuro, até à gestão das empresas e a importância da sucessão”. Ora, defende, isto só se consegue “aproximando o ensino, seja o secundário ou o superior, às empresas”.


“No futuro, temos de conseguir trazer os jovens cada vez mais cedo para as empresas, para verem a realidade industrial que ainda não está clara na sua mente. Há grande falta de conhecimento sobre o que é a indústria”, considera, afirmando que “o modelo de educação devia ser revisto, de forma a colocar os jovens cada vez mais cedo nas empresas”. É que, salienta, “sem conhecer a realidade, as pessoas novas no mercado de trabalho não estão recetivas a abraçar a indústria”. Ou seja, deve ser criado um modelo que aposte num caminho de conhecimento que junte a teoria com a prática. “Há competências necessárias ao futuro do sector e que devem desenvolver-se cada vez mais cedo junto dos jovens”, defende.


Hugo Ferreira é perentório: a indústria de moldes tem, hoje, um problema de falta de mão-de-obra. “Já se sente atualmente e, se não se fizer nada, vai acentuar-se no futuro”, afirma. As empresas têm, por isso, de criar formas de atrair pessoas.


Exemplificando com o caso do grupo TTO, conta que a maior parte das novas pessoas que entram são propostas e recomendadas por colaboradores da empresa. “Procuramos dar oportunidade às pessoas de dentro da empresa de trazerem outras, sempre que é preciso”, explica, contando que esta forma de recrutar “tem funcionado bem”. E tem, até, incrementado o espírito de família que se vive na empresa. Já há muito tempo que a empresa aposta nesta forma de recrutamento como a prioritária, diz ainda, acrescentando que aquilo que se tem verificado é que “a taxa de retenção é muito elevada”.


Hugo Ferreira ressalva que esta situação se aplica, sobretudo, aos cargos destinados a pessoas sem grande especialização que são, depois de integradas, formadas na empresa. Para cargos mais especializados, o recrutamento é um pouco mais complexo. Até porque, frisa, “é aí que se nota que a mão-de-obra é escassa”.


Além da própria imagem da indústria, considera ainda que a carga fiscal aplicada às empresas não permite praticar salários competitivos. Por isso, a aposta tem de passar por outras questões que não apenas o salário. “É preciso apostar no bom ambiente de trabalho e em condições que façam as pessoas sentirem-se bem: valorizadas e integradas”, sustenta.