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A gestão de pessoas sempre foi um dos maiores desafios das organizações.
Hoje, construir uma organização resiliente, capaz de sobreviver e prosperar durante décadas, exige mais do que reagir ao que está diante de nós.
Por Artur Ferraz
A gestão de pessoas sempre foi um dos maiores desafios das organizações. Ao longo de mais de 25 anos de experiência fomos percebendo que, embora os problemas permaneçam, as causas mudaram. Hoje, construir uma organização resiliente, capaz de sobreviver e prosperar durante décadas, exige mais do que reagir ao que está diante de nós. Exige uma visão que combine dedicação, autonomia e uma consciência de futuro capaz de atravessar as ondas de mudança que continuamente desafiam as estruturas organizacionais.
Mas o caminho para o longo prazo não é linear. Enquanto tentamos construir algo sólido e duradouro somos constantemente assediados pelas modas da gestão de pessoas. Estas tendências, mais ou menos eficazes, surgem como soluções mágicas, quase sempre apoiadas por quem deveria proteger a consistência organizacional, mas que acaba por gerar uma sucessão de pequenas tempestades.
Lembro-me da época em que as avaliações 360 eram o auge da sofisticação. Uma vez por ano, gestores, colaboradores e outros elementos respondiam a questionários direcionados a resultados, enquanto todos tentavam adivinhar se as palavras proferidas eram verdadeiras ou apenas protocolo. Em muitos casos, os processos desenvolviam-se sem que os visados tivessem tido o treino apropriado para ouvir e/ou falar. O problema é que, na maioria das vezes, essas avaliações ficavam na superfície, sem impacto prático na motivação ou no crescimento das pessoas. Nas organizações maduras, este processo pode ser bastante eficaz, mas em organizações em que as pessoas não estão habituadas a ouvir as posições de pares, chefias, ou outros, os resultados podem ser devastadores.
Depois veio a febre do coaching. De repente, tudo se resolvia com perguntas abertas: “Como te sentes em relação a isso?” ou “O que podes fazer para mudar?”. Não me interpretem mal, o coaching trouxe insights valiosos e ajudou muitas pessoas a repensarem as suas carreiras e ações. Mas, em alguns casos, o entusiasmo superava a estrutura e resultados do processo.
A seguir, entrámos na era da gestão por competências. Com tabelas organizadas e perfis coloridos, parecia que finalmente tínhamos encontrado a fórmula perfeita para gerir pessoas. Porém, muitas vezes, estas ferramentas eram implementadas sem conexão com a realidade das equipas, transformando-se numa coleção de gráficos que ficava na gaveta, em vez de impulsionar mudanças concretas.
Mais recentemente, tivemos a felicidade no trabalho. Escritórios transformaram-se em espaços dignos de um catálogo de decoração: puffs, mesas de pingue-pongue e café artesanal em abundância. Era como se os acessórios pudessem, por si só, garantir a motivação. Só que a felicidade é mais profunda do que isso. Não está na espuma do latte, mas na forma como as pessoas se sentem valorizadas, incluídas e desafiadas no seu trabalho, entre outros milhares de fatores.
E agora vivemos o momento do ESG (Meio Ambiente, Social e Governança), uma tendência que, diferente das anteriores, toca em valores fundamentais. A sustentabilidade, a inclusão e a ética deixaram de ser opcionais para se tornarem prioridades. É uma mudança necessária, mas que também exige cuidado. Não basta adicionar “ESG” ao plano estratégico e esperar resultados. É preciso integrar estas diretrizes de forma genuína, adaptando-as à cultura e à maturidade de cada organização.
Apesar de todas estas modas, uma coisa é certa: cada uma delas trouxe algo valioso. Algumas desafiaram o status quo, outras introduziram ferramentas úteis e outras ainda serviram para nos lembrar que o essencial nunca muda. Mas nenhuma delas é uma solução universal. A verdadeira arte da gestão de pessoas está em saber integrar estas ideias num modelo que respeite a identidade da organização, que seja simples e, ao mesmo tempo, preparado para a complexidade do mundo real.
Porque, no final, gerir pessoas não é seguir tendências, mas construir algo que dure. E, para isso, precisamos de manter a simplicidade num mundo complexo e não linear. Essa é a grande lição que todos os anos e modas nos foram ensinando. Afinal, não se trata de fazer tudo, mas de fazer o que importa. E, quando bem feito, é isso que cria impacto – e resiliência. Keep it simple, stupid!
Artur Ferraz é consultor internacional para a área de Gestão de Pessoas. Com mais de 25 anos de experiência dinâmica em consultoria em Portugal e Angola, dedica-se à transformação estratégica e mudança organizacional, e é também um orador frequente em conferências sobre estratégias, políticas e práticas de recursos humanos.